segunda-feira, 24 de junho de 2013

POEMA AULA DE DESENHO

 
                                                         RENÉ  MAGRITE

AULA DE DESENHO   
MARIA ESTHER MACIEL
   

Estou lá onde me invento e me faço:
De giz é meu traço. De aço, o papel.
Esboço uma face a régua e compasso:
É falsa. Desfaço o que fiz. 
Retraço o retrato. Evoco o abstrato
Faço da sombra  minha raiz.
Farta de mim, afasto-me
e constato: na arte ou na vida, 
em carne, osso, lápis ou giz
onde estou não é sempre
e o que sou é por um triz.

domingo, 16 de junho de 2013

CORPO


POEMA DE AUTORIA DE TATIANA LEMOS
"Teu corpo acorda meu corpo:
Vem!
Eu na cabeça, tentando encontrar linguagem; ele, à frente, já construindo oração
A dobra do teu joelho evoca o meu joelho
Que puxa a coxa, resolve o coxo
Que convida barriga a encontrar seu lugar contra as costas
Que anima os braços a formarem o laço que
Prende
Aperta
Molda
A massa da vida
O teu pulso, eu ouço
A cabeça não acompanha
Lenta
Lesa
Insuficiente
A dança pertence a seu próprio compasso
E, de repente, eu
Surdo
Cego
Murmurante
E nunca tão perfeitamente
Vivo"

sexta-feira, 14 de junho de 2013

CARTA DE LYGIA CLARK A SEU FILHO


APROVEITANDO MATERIAL ENVIADO POR RAPHAEL PRINCE.
HÁ COISAS QUE DEVEM SER LIDAS MAIS DE UMA VEZ.
 
CARTA DE LYGIA CLARK PARA SEU FILHO

Meu filho,
Você é um ser.
Existe na medida do mundo.
É pouco.
O mundo é a constatação da realidade exterior que te cerca.
É a tua medida inicial.
É o teu começo mas não o teu fim.
É o chão da tua expressividade pois você é um ser vertical.
Para cima do chão há o “invisível”.
Você pode olhar os seus pés mas não a sua própria imagem.
Esta você a percebe.
Na verticalidade está a medida da sua procura.
Quando você aceitar a simples constatação da vida, aí sim, será o seu começo.
O primeiro sentimento será de perda pois tudo que cai na constatação é vivido como ganho.
Tudo adquirido como perda até a integração absoluta do “o percebido” no seu interior.
É a própria dinâmica da vida: perde-ganha.
Quando você se sentir no mais absoluto desespero você está sendo salvo.
Solte e aceite a tua intuição que te levará a uma aparente solução – solução esta sempre provisória.
Aceite o provisório pois jamais o processo pode parar.
A vida pode vir a ser uma realidade extraordinária desde que você esteja voltado para sua procura interior.
Não há realidade independente do “interior de si”.
Desconfie das coisas claras, a pureza é descoberta dentro da maior conturbação de uma crise. É o ponto luminoso dentro da maior escuridão.
O teu corpo meu filho, é o veículo da tua vivência.
Não o impeça de florir por nada. Cuide dele como você cuida do teu carro.
Toda a tua riqueza interior vai suá-lo, sujá-lo, e até sangrá-lo.
Quando ele estiver gasto externamente você mesmo estará mais inteiriço e completo interiormente.
Você o despirá um dia como a crisálida deixa o casulo.
Ai de você se neste momento você é ainda o início não elaborado pois aí você vai saber que esteve permanentemente morto em vida.

de Lygia Clark, 1970.