segunda-feira, 30 de setembro de 2013

POEMA DE UMA SONHADORA


 
Poema de Suze Vilas Boas

Ontem, vi Teresas nascendo,

 e dramas acontecendo.

 Vi corpos suados tirando suas roupas,

 ficando nús, procurando o despertar

 de algo que viesse de dentro.

 Profundo, intenso.

 Vi amores, dissabores,

 sonhos estampados para que fossem

 jogados ao vento, e levados

 para o encontro da alma.

 Vi a vida se estremecendo,

 sendo salva apenas por

 um corpo que queria achar

 seu par, sua maneira dançar.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

VIAJAR E NÃO VOLTAR


 
Uma vez fui viajar e não voltei

(Marcelo Penteado)

iUma vez fui viajar e não voltei.

Não por rebeldia ou por ter decidido ficar; simplesmente mudei.

Cruzei fronteiras que eu nunca imaginaria cruzar. Nem no mapa, nem na vida. Fui tão longe que olhar para trás não era confortante, era motivador.

Conheci o que posso chamar de professores e acessei conhecimentos que nenhum livro poderia me ensinar. Não por serem secretos, mas por serem vivos.

Acrescentei ao dicionário da minha vida novos significados para educação, medo e respeito.

Reaprendi o valor de alguns gestos. Como quando criança, a espontaneidade de sorrisos e olhares faz valer a comunicação mais universal que há – a linguagem da alma.

Fui acolhido por pessoas, famílias, estranhos, bancos e praças. Entre chãos e humanos, ambos podem ser igualmente frios ou restauradores.

Conheci ruas, estações, aeroportos e me orgulho de ter dificuldade em lembrar seus nomes. Minha memória compartilha do meu desejo de querer refrescar-se com novos e velhos ares.

Fiz amigos de verdade. Amigos de estrada não sucumbem ao espaço e nem ao tempo. Amigos de estrada cruzam distâncias; confrontam os anos. São amizades que transpassam verões e invernos com a certeza de novos encontros.

Vivi além da minha imaginação. Contrariei expectativas e acumulei riquezas imateriais. Permiti ao meu corpo e à minha mente experimentar outros estados de vivência e consciência.

Redescobri o que me fascina. Senti calores no peito e dei espaço para meu coração acelerar mais do que uma rotina qualquer permitiria.

E quer saber?

Conheci outras versões da saudade. Como nós, ela pode ser dura. Mas juro que tem suas fraquezas. Aliás, ela pode ser linda.

Com ela, reavaliei meus abraços, dei mais respeito à algumas palavras e me apaixonei ainda mais por meus amigos e minha família.

E ainda tenho muito que aprender.

Na verdade, tais experiências apenas me dirigem para uma certeza – que ainda tenho muito lugar para conhecer, pessoas a cruzar e conhecimento para experimentar.

Uma fez fui viajar…

e foi a partir deste momento que entendi que qualquer viagem é uma ida sem volta.

 

 

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

UM POUCO DE POESIA


Manoel de Barros:

DESPALAVRA

Hoje eu atingi o reino das imagens, o reino da
despalavra.
Daqui vem que todas as coisas podem ter qualidades
humanas.
Daqui vem que todas as coisas podem ter qualidades
de sapo.
Daqui vem que todos os poetas podem ter qualidades
de árvore.
Daqui vem que os poetas podem arborizar os pássaros.
Daqui vem que os poetas podem humanizar
as águas.
Daqui vem que os poetas devem aumentar o mundo
com as suas metáforas.
Que os poetas podem ser pré-coisas, pré-vermes,
podem ser pré-musgos.
Daqui vem que os poetas podem compreender
o mundo sem conceitos.
Que os poetas podem refazer o mundo por imagens,
por eflúvios, por afeto.

in Ensaios Fotográficos, ed. Record

sábado, 3 de agosto de 2013

O TEMPO E CORTELLA


O Tempo e nós.

Conversa na frente do elevador (cujo botão de chamada era seguidamente apertado pela mesma pessoa): “Olha, eu tenho um livro pra você ler que é bom demais”! Resposta do outro, preocupado: “É grande”?

Pouco depois, outras pessoas ali mesmo, também apertando o botão com sofreguidão, rola outra conversa: “Descobri um curso para você fazer que é magnífico”! Resposta, com ar franzido: ...“Demora”?

Não tenho tempo! Esse é quase um brado recorrente. Ora, tempo é questão de prioridade; se digo que não tenho tempo para algo, estou dizendo que aquilo não é prioridade para mim.

Por isso, a questão central não é saber se tenho ou não tempo, mas, isso sim, quais são as minhas prioridades ao viver. Ficar idoso é ter bastante idade e, portanto, avolumar mais tempos; já o envelhecimento vem com vigor quando desistimos de usar o tempo para a fruição, a partilha, o crescimento, e a inovação de si mesma e de si mesmo.

A velhice é uma sensação de que o tempo é algo a ser aguardado na conclusão (o tempo passa…), em vez de usado para reinvenção (vou achar um tempo para isso)…

A velhice é, antes de mais nada, uma desistência.

Em 1924 o estupendo estudioso da cultura brasileira, nosso maior pensador sobre Folclore, o potiguar Câmara Cascudo, publicou a obra “Histórias que o tempo leva”; foi seu segundo livro de uma série de dezenas e dezenas que produziu em 88 anos de vida. Nascido em Natal em 1898 (há pouco mais de 180 quilômetros de Currais Novos, como diria outro potiguar dedicado ao livros, José Xavier Cortez), tem seu corpo naquela capital sepultado desde 1986.

Cascudo deixou um livro de memórias, “O Tempo e Eu”, cuja primeira edição é de 1968 (ano simbólico!) e que saiu pela editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, da qual ele foi professor e cujo Instituto de Antropologia tem seu nome. Obra sólida, marcada não pela nostalgia de “tempos perdidos” mas pela alegria dos “tempos vividos”.

Professor com orgulho, não perdia tempo quando alguém esquecia isso; bastante idoso, irritava-se mais e mais com quem o chamava de folclorista e, em uma entrevista foi direto: “Faço questão de ser tratado por esse vocábulo que tanto amei: professor. Os jornais, na melhor ou na pior das intenções, me chamam folclorista. Folclorista é a PQP. Eu sou um professor. Até hoje minha casa é cheia de rapazes me perguntando, me consultando”.

Foi um gênio, inclusive no uso do tempo.

Porém, sua genialidade não era unânime dentro de casa. Teve uma cozinheira que trabalhou com ele mais de quarenta anos, pessoa boa e dedicada, que um dia foi abordada perto do fogão por uma visita de Cascudo (em lugar que dava para ver o professor no interior da biblioteca pessoal) e esta comentou “Mas esse homem é um gênio, né?”

A cozinheira disse, sem parar de mexer o pirão de queijo: “Acho não, moço. Faz décadas que estou aqui e vejo ele estudar todo dia por um tempão”…
(por Mario Sergio Cortella – filósofo, professor da PUC-SP).

quinta-feira, 11 de julho de 2013

ARTE E JUNG

                                                          OBRA      DE      JUNG
A relativa inadaptação do artista significa para ele uma vantagem real, permite-lhe permanecer afastado da estrada principal, seguir seus próprios anseios e encontrar aquilo de que os outros, sem o saber, sentiam falta. Assim como no indivíduo a unilateralidade de sua atitude consciente é corrigida por reações inconscientes, a arte representa um processo de autorregulação espiritual na vida das épocas e das nações”. (C. G. Jung)

“O significado social da obra de arte é que ela trabalha continuamente na educação do espírito da época, pois traz à tona aquelas formas das quais a época mais necessita”.JUNG

“Quem fala através de imagens primordiais, fala como se tivesse mil vozes; comove e subjuga, elevando simultaneamente aquilo que qualifica de único e efêmero na esfera do contínuo devir, eleva o destino pessoal ao destino da humanidade e com isto também solta em nós todas aquelas forças benéficas que desde sempre possibilitaram à humanidade salvar-se de todos os perigos e também sobreviver a mais uma noite”.Jung,

 

domingo, 7 de julho de 2013

PEDAÇOS DE MIM

                                                                MONDRIAN

Fui Sabendo de Mim

Fui sabendo de mim
por aquilo que perdia

... pedaços que saíram de mim
com o mistério de serem poucos
e valerem só quando os perdia

fui ficando
por umbrais
aquém do passo
que nunca ousei

eu vi
a árvore morta
e soube que mentia

MIA COUTO

No livro "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

segunda-feira, 24 de junho de 2013

POEMA AULA DE DESENHO

 
                                                         RENÉ  MAGRITE

AULA DE DESENHO   
MARIA ESTHER MACIEL
   

Estou lá onde me invento e me faço:
De giz é meu traço. De aço, o papel.
Esboço uma face a régua e compasso:
É falsa. Desfaço o que fiz. 
Retraço o retrato. Evoco o abstrato
Faço da sombra  minha raiz.
Farta de mim, afasto-me
e constato: na arte ou na vida, 
em carne, osso, lápis ou giz
onde estou não é sempre
e o que sou é por um triz.

domingo, 16 de junho de 2013

CORPO


POEMA DE AUTORIA DE TATIANA LEMOS
"Teu corpo acorda meu corpo:
Vem!
Eu na cabeça, tentando encontrar linguagem; ele, à frente, já construindo oração
A dobra do teu joelho evoca o meu joelho
Que puxa a coxa, resolve o coxo
Que convida barriga a encontrar seu lugar contra as costas
Que anima os braços a formarem o laço que
Prende
Aperta
Molda
A massa da vida
O teu pulso, eu ouço
A cabeça não acompanha
Lenta
Lesa
Insuficiente
A dança pertence a seu próprio compasso
E, de repente, eu
Surdo
Cego
Murmurante
E nunca tão perfeitamente
Vivo"

sexta-feira, 14 de junho de 2013

CARTA DE LYGIA CLARK A SEU FILHO


APROVEITANDO MATERIAL ENVIADO POR RAPHAEL PRINCE.
HÁ COISAS QUE DEVEM SER LIDAS MAIS DE UMA VEZ.
 
CARTA DE LYGIA CLARK PARA SEU FILHO

Meu filho,
Você é um ser.
Existe na medida do mundo.
É pouco.
O mundo é a constatação da realidade exterior que te cerca.
É a tua medida inicial.
É o teu começo mas não o teu fim.
É o chão da tua expressividade pois você é um ser vertical.
Para cima do chão há o “invisível”.
Você pode olhar os seus pés mas não a sua própria imagem.
Esta você a percebe.
Na verticalidade está a medida da sua procura.
Quando você aceitar a simples constatação da vida, aí sim, será o seu começo.
O primeiro sentimento será de perda pois tudo que cai na constatação é vivido como ganho.
Tudo adquirido como perda até a integração absoluta do “o percebido” no seu interior.
É a própria dinâmica da vida: perde-ganha.
Quando você se sentir no mais absoluto desespero você está sendo salvo.
Solte e aceite a tua intuição que te levará a uma aparente solução – solução esta sempre provisória.
Aceite o provisório pois jamais o processo pode parar.
A vida pode vir a ser uma realidade extraordinária desde que você esteja voltado para sua procura interior.
Não há realidade independente do “interior de si”.
Desconfie das coisas claras, a pureza é descoberta dentro da maior conturbação de uma crise. É o ponto luminoso dentro da maior escuridão.
O teu corpo meu filho, é o veículo da tua vivência.
Não o impeça de florir por nada. Cuide dele como você cuida do teu carro.
Toda a tua riqueza interior vai suá-lo, sujá-lo, e até sangrá-lo.
Quando ele estiver gasto externamente você mesmo estará mais inteiriço e completo interiormente.
Você o despirá um dia como a crisálida deixa o casulo.
Ai de você se neste momento você é ainda o início não elaborado pois aí você vai saber que esteve permanentemente morto em vida.

de Lygia Clark, 1970.

domingo, 12 de maio de 2013

O PODER NO SONHO


                                                                   -  KLIMT-
 
Elogio dos sonhos

SZYMBORSKA, Wisława

 Nos sonhos

 eu pinto como Vermeer van Delft.

 Falo grego fluente

 e não só com os vivos.

 Dirijo um carro

 que me obedece.

 Tenho talento,

 escrevo grandes poemas.

 Escuto vozes

 não menos que os mais veneráveis santos.

 Vocês se espantariam

 com minha performance ao piano.

 Flutuo no ar como se deve

 isto é, sozinha.

 Ao cair do telhado

 desço de manso na relva.

 Respiro sem problema

 debaixo d'água.

 Não reclamo:

 consegui descobrir a Atlântida.

 Fico feliz de sempre poder acordar

 pouco antes de morrer.

Assim que começa a guerra

 me viro do melhor lado.

 Sou, mas não tenho que ser

 filha da minha época.

 Faz alguns anos

 vi dois sóis.

 E anteontem um pinguim.

 Com toda a clareza.

Poemas. Trad. de Regina Przybycien.
São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

 

 

 

quarta-feira, 1 de maio de 2013

DIFERENTES MODOS DE VIAJAR


FUI ALERTADA POR UMA AMIGA PARA PRESTAR ATENÇÃO AOS QUE PARTICIPAM DA:
THE  SCHOOL OF LIFE/LONDON   
E VALEU!OBRIGADA...AGORA COMPARTILHO.                    

VIAJAR
ROMAN KRZNARIC
TRADUÇÃO:ELIANA MIRANZI

POR QUE GASTAMOS TANTO DE NOSSO PRECIOSO TEMPO DE FÉRIAS NAS FILAS PARA VER PINTURAS FAMOSAS COMO A MONALISA,MESMO QUANDO NÃO SOMOS TÃO INTERESSADOS ASSIM EM ARTE?

E POR QUE NOS ARRASTAMOS A TODAS AQUELAS CATEDRAIS, MUSEUS E MONUMENTOS DAS LISTAS DOS GUIAS QUANDO, SEJAMOS HONESTOS,ELES SE REVELAM BASTANTE DESINTERESSANTES,E NÃO VEMOS A HORA DE CHEGAR A UM CAFÉ?

 A RESPOSTA ESTÁ NA HISTÓRIA. POUCOS DE NÓS PERCEBEMOS QUE ESTAMOS, SEM QUERER,SEGUINDO UM ITINERÁRIO ESTABELECIDO POR TURISTAS ARISTOCRATAS HÁ 300 ANOS ATRÁS. JÁ É HORA DE FUGIR DESSA HERANÇA E ENCONTRAR MANEIRAS DE VIAJAR COM MAIS AVENTURA NO SÉCULO 21.

A VIAGEM MODERNA TEM RAIZES NA TRADIÇÃO DO GRAND TOUR DO SÉCULO 18, QUANDO CAVALHEIROS DA CLASSE ALTA-E UMA OU OUTRA SENHORITA SORTUDA-PARTIAM COM SEUS SERVOS PARA UMA VOLTA CULTURAL PELA EUROPA, PARA FINALIZAR UMA EDUCAÇÃO CLÁSSICA. SEU DESTINO FINAL ERA A ITÁLIA, ONDE OBSERVARIAM AFRESCOS DESBOTADOS E PRESTARIAM HOMENAGEM A ESCULTURAS ROMANAS DE UM SÓ BRAÇO.MUITO BOM PARA ELES, MAS DIFICILMENTE SERIA O QUE A MAIORIA DE NÓS CHAMARIA DE DIVERSÃO.

PORTANTO O TURISMO TOMOU UM DESASTRADO CAMINHO ERRADO NO SÉCULO 19,QUANDO A NOVA GERAÇÃO DE GUIAS-MAIS NOTORIAMENTE OS BEST SELLING “BAEDEKER”-ADOTARAM O PACOTE COMPLETO DO ITINERÁRIO DO GRAND TOUR, VENDENDO AOS TURISTAS VITORIANOS VISITAS A IGREJAS MOFADAS E PALACIOS CAINDO AOS PEDAÇOS.

ABRA A MAIORIA DOS GUIAS DE VIAGENS DE HOJE E NOTARÁ QUE HOUVE POUCA MUDANÇA.À PARTE PEQUENAS MENÇÕES A PRAIAS IDÍLICAS E BOITES DA MODA,AINDA NOS DIZEM PARA VISITAR OS MESMOS LUGARES HISTÓRICOS.VAI A PARIS?ENTÃO VOCÊ NÃO PODE PERDER O LOUVRE, O ARCO DO TRIUNFO  OU VERSAILLES.

ENTÃO, O QUE PODEMOS FAZER PARA NOS LIVRAR DESSA ABORDAGEM ANTIQUADA EM RELAÇÃO ÀS VIAGENS?E COMO PODEMOS FAZER NOSSAS FÉRIAS MAIS SEMELHANTES A UMA EXPERIÊNCIA TRANSFORMADORA?

QUANDO VIAJAR PARA O EXTERIOR, NÃO DESPERDICE SEUS DIAS VISITANDO MONUMENTOS DE PEDRA. PROCURE PELO POVO DO LOCAL E DESCUBRA COMO VIVEM.UMA BOA OPÇÃO É HOSPEDAR-SE COM UMA FAMÍLIA,O QUE É FÁCIL DE SE ORGANIZAR, ATRAVÉS DE UM SITE ESPECIALIZADO.RECENTEMENTE FIQUEI COM UMA FAMÍLIA MARAVILHOSA EM PALERMO, E MINHA ANFITRIÃ ATÉ MESMO DEU-ME AULAS DE CULINÁRIA SICILIANA.MEUS FILHOS ADORARAM QUANDO RETORNEI COM ÓTIMAS RECEITAS EM VEZ DE UM GRANDE BRONZEADO.

NOSSAS EXPERIÊNCIAS MAIS INESQUECÍVEIS EM RELAÇÃO A FÉRIAS RARAMENTE SÃO DE NOSSAS VISITAS A LOCAIS TURÍSTICOS, MAS SIM DE QUANDO OS MORADORES LOCAIS NOS CONVIDAM A PARTILHAR UMA FATIA DE SUAS VIDAS.

NEM PRECISAMOS MAIS DEIXAR NOSSA CIDADE PARA VIAJAR. A GLOBALIZAÇÃO E A IMIGRAÇÃO TROUXERAM A CULTURA DO MUNDO TODO ATÉ A PORTA DE NOSSAS CASAS.DEVERÍAMOS NOS TORNAR ANTROPOLOGISTAS DE FUNDO DE QUINTAL E CULTIVAR UMA BOA CURIOSIDADE EM RELAÇÃO AOS NOSSOS VIZINHOS DE NAÇÕES E COMUNIDADES DIFERENTES.BATER PAPO COM UM ESTRANHO UMA VEZ POR SEMANA, COMO POR EXEMPLO, A SENHORA QUE VENDE JORNAIS A VOCÊ TODAS AS MANHÃS.E CERTIFIQUE-SE DE IR ALÉM DO PAPO SOBRE O CLIMA, PARA DISCUTIR O QUE REALMENTE LHE INTERESSA, SEJA TRABALHO, OU EDUCAÇÃO, RELACIONAMENTOS OU POLÍTICA.

ENTRE OS VIAJANTES DOS PRIMÓRDIOS NA HISTÓRIA, ESTÃO OS PEREGRINOS, QUE EMBARCAVAM EM UMA VIAGEM ÁRDUA E DEFINITIVA ATÉ MECA, O SANTO GANGES, OU A BASÍLICA DE SÃO PEDRO, EM ROMA.PRECISAMOS ROUBAR ESSA IDÉIA DE PEREGRINAÇÕES E ADAPTÁ-LA À ÉPOCA ATUAL.ESTE ANO, FAÇA UMA PEREGRINAÇÃO A ALGUM LUGAR QUE TENHA UM SIGNIFICADO ESPECIAL PARA VOCÊ. QUE TAL A VILAZINHA ONDE NASCEU SUA AVÓ?VISITE AS  RUAS ONDE ELA BRINCOU QUANDO CRIANÇA, E BATA À PORTA DA CASA ONDE ELA MOROU.

 VIAJAR TEM ESTADO NO CORAÇÃO DE CULTURAS NÔMADES A SÉCULOS.ENTÃO, O QUE SIGNIFICARIA SER UM NÔMADE HOJE?EM VEZ DE PENSAR QUE VOCÊ TERIA QUE ESTAR CONSTANTEMENTE EM MOVIMENTO,MUDANDO-SE DE UM DESTINO A OUTRO, A ESSÊNCIA DA EXPERIÊNCIA NÔMADE É ESTAR AO AR LIVRE, EM CONTATO COM A NATUREZA SELVAGEM.  E ISSO SIGNIFICA ACAMPAR.ENTÃO, ARME UMA TENDA COM A FAMÍLIA E AMIGOS, EM UMA LOCALIDADE RURAL LUXURIANTE EM UM VALE, OU EM UM PENHASCO SOBRE O MAR. AO CAIR DA TARDE, SENTE-SE SOB AS ESTRELAS E FIXE SEU OLHAR NAS CHAMAS DE UMA FOGUEIRA, COMO FAZIAM NA TRADIÇÃO NÔMADE OS NOSSOS ANCESTRAIS.

 O TURISMO TORNOU-SE UMA EXPERIÊNCIA VISUAL INCRÍVEL-VEMOS OS LOCAIS, TIRAMOS FOTOS E APRECIAMOS A VISTA.-MAS PODEMOS IR MAIS FUNDO NO USO DE NOSSOS SENTIDOS, EM BUSCA DE UMA EXPERIÊNCIA DE VIAGEM MAIS PROFUNDA.

COLOQUE O MAPA DE LADO E PERMITA-SE PERDER-SE QUANDO VISITAR UMA NOVA CIDADE. SIGA O CHEIRO MEDIEVAL DE PEIXE DEFUMADO E VOCÊ PODERÁ ENCONTRAR-SE REPENTINAMENTE EM UM MERCADO DE ALIMENTOS VIBRANTE; OU VÁ ATRÁS DO CANTO DE UM PÁSSARO E DESCUBRA UM PARQUE ESCONDIDO.USE SEUS SENTIDOS COMO BÚSSOLA PARA CRIAR UM CAMINHO TURÍSTICO SURPREENDENTE. NO SÉCULO 21, NÃO HÁ NECESSIDADE DE SEGUIR AS ROTAS DE VIAGEM DOS ARISTOCRATAS DO GRAND TOUR.PARE DE COLECIONAR LUGARES HISTÓRICOS FAMOSOS E EM VEZ DISSO, COLECIONE EXPERIÊNCIAS QUE MUDEM A MANEIRA COM QUE VEMOS O MUNDO E NOSSAS PRÓPRIAS VIDAS.

Roman Krznaric É MEMBRO FUNDADOR DA “THE SCHOOL OF LIFE”LONDON.ARTIGO PUBLICADO PELA BBC.MAIO,2012.

4

 

quarta-feira, 17 de abril de 2013

BOSSA E CENTENÁRIO DE VINÍCIUS



ERA MAIS OU MENOS ASSIM:

BEIRA DO MAR E BOSSA NOVA.GENTE INTELIGENTE, ANTENADA, GENTE BONITA E BOSSA NOVA. UM AR DE SONHO E... BOSSA.

BEIRA DO MAR RIMA COM VINICIUS E CAYMI, TEMPO DE SOBRA , COQUEIRO E O VIOLÃO.

CÉU MUITO AZUL, UM DEDILHADO LIMPO, POÉTICO, SUAVE, VINDO LÁ DA SOMBRA.

CHICO E TOM, CADÊ O JOÃO, MIUCHA TÁ AÍ? FOI COM NARA?

A POESIA SE FAZ COMO SE FAZ A LUZ, O SOL, A BRISA. EU E A BRISA. E OS INESPERADOS.

TUDO BRANDO, CIVILIZADO, GENTIL.TODO MUNDO SÓ QUERENDO SER FELIZ.

JOÃO FOI VER BARQUINHOS. INÚTIL PAISAGEM.MAS PRA QUE TANTO CÉU, PRA QUE TANTO MAR, PRA QUE?

ALGUNS PENSAM. OUTROS SÃO PENSADOS.

A VIDA VISTA DA JANELA. SÓ CAROLINA VÊ O TEMPO PASSAR. SERÁ?

NO BAR ROLA A PROSA DE PRIMEIRA LINHA. ALTO NÍVEL.GENTE LIDA, INFORMADA.

UMA VONTADE LOUCA DE CANTAR, FAZER VERSO, VIAJAR.

O DIA NÃO TEM HORA PRA ACABAR.A NOITE NEM SONHA, AINDA.

MAS...SEMPRE TEM UMA MARIPOSA PRESA NO CORAÇÃO.RESSACA DA ALMA.

UMA LIGEIRA SOMBRA DE MELANCOLIA.BATER DE ASAS.ESCURECE.

SENTIMENTAIS. “TODOS NÓS HERDAMOS DO SANGUE LUSITANO UMA BOA DOSE DE LIRISMO”... VEM, RUI GUERRA. ABRASILEIRAR-SE.CHICO ESPERA.

E NA MELODIA INGÊNUA E SUAVE, ENCAIXA-SE COM PERFEIÇÃO A POESIA PURA E DOCE,

QUE NÃO CONSEGUE DISFARÇAR OS CORAÇÕES  INFLADOS, RUBROS, INTENSAMENTE APAIXONADOS, E PORISSO, DOÍDOS, E COMO DÓI.É PRECISO APRENDER A SER SÓ...

MAIS MÚSICA, DERRAMA VERSO...DE TUDO AO MEU AMOR SEREI ATENTO....

NA CIDADE, O NEON ENFEITA A PAIXÃO, A DOR, E DÁ COR ÀS NOTAS E PALAVRAS, TONTAS PALAVRAS, ONDE VÃO? PARECE QUE POR TRÁS DE TUDO UM FANTASMA SEM HUMOR JÁ SONDAVA.

A GENTE É JOVEM, AH! DOCE ILUSÃO DE UM MUNDO DE BRINCADEIRA ,UMA VIDA SÓ DE FÉRIAS. BELA BOSSA, BELOS GÊNIOS, GRANDE PÁTRIA,TUDO É FÁCIL, SIMPLES E POSSÍVEL.

E SE FAZ A MÚSICA DO SÉCULO.DEFINITIVA.UNIVERSAL.

DEPOIS VEM A CHUVA.TEM RAIO E TROVÃO. O QUE SERÁ DE NÓS?

A VIDA CONTA TUDO NUM LIVRO MUITO, MUITO GRANDE.
Eliana R. C. Miranzi.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

ANIMA MUNDI


JUNG

- Jung moveu-se em direção a uma concepção de arquétipos como padrões autônomos de significado que informa a ambos: psique e matéria, providenciando uma ponte entre o interior e o exterior. A sincronicidade postula um significado que está a priori em relação a consciência humana e aparentemente existe fora do homem.

 

Sempre que entramos em contato com um arquétipo entramos numa relação com fatores transconscientes e metafísicos.

 

Os últimos trabalhos de JUNG aproximaram intimamente a compreensão de um mundo com alma, uma alma do mundo- anima mundi – na qual a psique humana participa e com a qual ela compartilha os mesmo princípios ordenadores de significado.

 

Jung considera a natureza essencial da psique humana como sendo religiosa.

 

Segundo Jung, a humanidade tem suas vias para estabelecer estas conexões:

“O mito é pré eminentemente um fenômeno social: é contado por muitos e ouvido por muitos. Ele oferece a inimaginada e ultima experiência religiosa: uma IMAGEM, uma forma na qual se expressar, e isto torna a vida comunitária possível”.

 

Jung também coloca no que diz respeito à encarnação de Deus :

“O ego é participante do sofrimento de Deus. Nós nos tornamos participes da natureza divina. Nós somos o vaso do sofrimento da Divindade no corpo”.

 

A individuação e a existência individual são indispensáveis para a transformação de Deus. A consciência humana é o único olho vidente da Divindade.

 

Apesar da encarnação divina ser um evento cósmico e absoluto, ele apenas se manifesta empiricamente naqueles relativamente poucos indivíduos capazes de consciência suficiente para tomar decisões éticas, isto é,  decidir pelo bom.

 

O conhecimento do que é bom não é dado a priori, para isto é necessário uma consciência capaz de discernir e distinguir. Não uma tal coisa como O BOM em geral, porque algo que é definitivamente bom em uma situação pode ser definitivamente mal em outra.

 

O significado do homem é substancializado pela encarnação. Nós nos tornamos participantes da vida divina e devemos assumir uma nova responsabilidade , a propósito da continuação da realização divina, que se expressa na tarefa de nossa individuação.

 

Individuação não significa apenas que o homem se tornou verdadeiramente humano e distinto do animal, mas que ele também se tornou parcialmente divino. Isto significa que ele deve tornar-se adulto, responsável por sua existência, sabedor de que ele não apenas depende de Deus mas que Deus também depende dele.

 

A relação do homem com Deus deve submeter-se a uma mudança importante: em vez de adorações a um rei, ou as orações de uma criança a um pai adorável, a responsável e viva e realizadora vontade divina em nos, será nossa forma de adorar e de trocar com Deus. Sua bondade significa graça e luz e seu lado obscuro, as terríveis tentações de poder. São as distinções entre o ego e self. Quando o ego se torna capaz de perceber um centro transpessoal. Então ele começa a ter uma percepção do que significa a Vontade Divina.
(TEXTO USADO POR ADRIANA FERREIRA EM TIRADENTES/2013, SEMINÁRIO DE SONHOS)

 

 

 

segunda-feira, 1 de abril de 2013

SONO E SONHO

                                                                  VAN GOGH
(TEXTO QUE ME VEIO ÀS MÃOS, TRADUZIDO POR MIM.
ELIANA MIRANZI)


A ORIGEM DO SONO E DOS SONHOS

SRI AUROBINDO

NÃO SOMOS CAPAZES DE ACEITAR O ESTADO DE SONHO COMO UMA ADEQUADA ANALOGIA PARA A VIDA HUMANA. MAS NÃO SERIA APROPRIADO DESPREZAR AS EXPERIÊNCIAS DESTE ESTADO, CONSIDERANDO-O SEM VALOR OU PURAMENTE CAÓTICO.SRI AUROBINDO REVISA A NATUREZA DO SONO E DOS SONHOS.”O QUE ACONTECE NO SONO É QUE NOSSA CONSCIENCIA SE AFASTA DO CAMPO DE SUAS EXPERIENCIAS QUANDO ESTAMOS ACORDADOS;ESPERA-SE QUE HAJA REPOUSO,SUSPENSÃO OU   LATENCIA,MAS ESTE É UM MODO DE PENSAR SOBRE O ASSUNTO SUPERFICIALMENTE. O QUE ESTÁ LATENTE  SÃO AS ATIVIDADES QUE TEMOS QUANDO DESPERTOS, O QUE REPOUSA É A SUPERFÍCIE DA MENTE E A AÇÃO CONSCIENTE NORMAL DE NOSSA PARTE CORPORAL;MAS A CONSCIENCIA INTERIOR NÃO ESTÁ SUSPENSA, E SIM ENTRA EM ATIVIDADES INTERIORES, APENAS UMA PARTE DAS QUAIS, UMA PARTE ACONTECENDO OU GRAVADA EM ALGO EM NÓS QUE FICA PERTO DA SUPERFÍCIE, NÓS  PODEMOS LEMBRAR.É MANTIDO NO SONO, POIS ESTÁ PERTO DA SUPERFÍCIE, UM ELEMENTO SUBCONSCIENTE OBSCURO QUE É UM RECEPTÁCULO OU PASSAGEM PARA NOSSAS EXPERIENCIAS NOS SONHOS E É POR SI MESMO UM CONSTRUTOR DE SONHOS; MAS ATRÁS DISSO FICA A PROFUNDEZA E MASSA DO SUBLIMINAR, A TOTALIDADE DE NOSSO SER INTERIOR E CONCIENCIA OCULTOS, O QUE É ASSUNTO DE UMA OUTRA ORDEM.   

quarta-feira, 20 de março de 2013

CONSCIENTE E INCONSCIENTE


Sincronicidade


(TEXTO ENCONTRADO NA INTERNET)

Termo cunhado por Carl Gustav Jung para sua teoria de que tudo no universo estava interligado por um tipo de vibração, e que duas dimensões (física e não física) estavam em algum tipo de sincronia, que fazia certos eventos isolados parecerem repetidos, em perspectivas diferentes. Tal idéia desenvolveu-se primeiramente em conversas com Albert Einstein, quando ele estava começando a desenvolver a Teoria da Relatividade. Einstein levou a idéia adiante no campo físico, e Jung, no psíquico.

A sincronicidade é definida como uma coincidência significativa entre eventos psíquicos e físicos. Um sonho de um avião despencando das alturas reflete-se na manhã seguinte numa notícia dada pelo rádio. Não existe qualquer conexão causal conhecida entre o sonho e a queda do avião. Jung postula que tais coincidências apóiam-se em organizadores que geram, por um lado, imagens psíquicas e, por outro lado, eventos físicos. As duas coisas ocorrem aproximadamente ao mesmo tempo, e a ligação entre elas não é causal.

Antecipando-se aos críticos, Jung escreve: "O ceticismo... deveria ter por objeto unicamente as teorias incorretas, e não assestar suas baterias contra fatos comprovadamente certos. Só um observador preconceituoso seria capaz de negá-lo.
A resistência contra o reconhecimento de tais fatos provém principalmente da repugnância que as pessoas sentem em admitir uma suposta capacidade sobrenatural inerente à psique".

Os fenômenos sincronícos manifestam-se com muito maior freqüência quando a psique está funcionando num nível menos consciente (estado de ondas alfa), como em sonhos, meditações ou devaneios. Assim que a pessoa se aperceba do evento sincroníco e se concentre nele, o perde, pois a idéia de tempo e espaço volta a reinar na consciência. Jung sublinha que a sincronicidade parece depender consideravelmente da presença de afetividade, ou seja, sensibilidade a estímulos
emocionais.

A grande sacada de Jung foi colocar a sincronicidade como algo abrangente do TODO, e não de um mero evento. Ele pergunta: Como pode um acontecimento remoto no espaço e no tempo produzir uma correspondente imagem psíquica, quando a transmissão de energia necessária para isso não é sequer concebível? Por mais incompreensível que isso possa parecer, somos compelidos, em última instância, a admitir a existência no inconsciente de algo como um conhecimento ‘a priori’ ou uma relação imediata de eventos que carecem de qualquer base causal. Ou seja: a pessoa que acessou o avião caindo sempre soube, só que não sabia que sabia, porque na verdade não existe espaço nem tempo para o
self! É o nível búdico!

Segundo ele, os pensamentos
vêm-nos à consciência; as intuições e pensamentos que surgem do inconsciente não são produtos de esforços deliberados para pensar, mas objetos internos, parcelas do inconsciente que pousam ocasionalmente na superfície do ego. Jung gostava de dizer, por vezes, que os pensamentos são como pássaros: eles chegam e fazem ninho nas árvores da consciência por algum tempo, e depois alçam vôo de novo. São esquecidos e desaparecem.

A matemática é um produto puro da mente, e não se mostra em parte alguma do mundo natural; no entanto, pessoas podem sentar-se em seus gabinetes e gerar equações que rigorosamente predizem e captam objetos e eventos físicos. A Jung impressionava que um produto puramente psíquico (uma fórmula matemática) pudesse ter um relacionamento tão extraordinário com o mundo físico. Por outro lado, Jung propõe que os arquétipos também servem como ligações diretas entre a psique e o mundo físico, mas não são as causas destes. Parece sim, ligá-lo a "operadores" que organizam a sincronicidade.

Os junguianos comentam que no inconsciente não há segredos. Todo o mundo sabe tudo. Pode-se comparar esse conhecimento com o "Olho de Deus", o "Olho que tudo vê" ou o "Grande Irmão". Não é apenas o que fazemos, mas até o que pensamos - que É o que somos! - que pode ser acessado.

Jung vai ainda mais longe em sua definição de Sincronicidade, que recebe o nome de Cosmologia na sua forma mais abrangente, onde relaciona a organização ‘acausal’ no mundo, sem referência à psique humana. Antes de nós existirmos, existia a organização, a sincronicidade; então, quem geria isso? Ele diz: "Nessa categoria se incluem todos os "atos de Criação", fatores a priori, tais como, por exemplo, as propriedades dos números primos, as descontinuidades da física moderna, etc."

Nós, seres humanos - ensina ele - temos um papel especial a desempenhar no universo. O nosso inconsciente é capaz de refletir o Cosmos e de introduzi-lo no espelho da consciência. Cada pessoa pode testemunhar o Criador e as obras Criativas desde dentro, prestando atenção à imagem e à sincronicidade. Pois o arquétipo não é só o modelo da psique, mas também reflete a real estrutura básica do universo. "Como em cima, assim em baixo" falou o Mestre Hermes Trismegisto. "Como dentro, assim fora" responde o moderno explorador da alma, Carl Gustav Jung.

Extraído e adaptado do livro Jung, o mapa da alma, de Murray Stein. Agradecimentos a Klash pela introdução.

"Não posso provar a você que Deus existe, mas meu trabalho provou empiricamente que o "padrão de Deus" existe em cada homem, e que esse padrão (pattern) é a maior energia transformadora de que a vida é capaz de dispor ao indivíduo. Encontre esse padrão em você mesmo e a vida será transformada." (C.G. Jung)

 

segunda-feira, 18 de março de 2013

SONHOS DE 2012

DO SEMINÁRIO DE SONHOS DE 2012, TIRADENTES, MG.

POEMA DE BORGES


Para uma versão do I Ching
JORGE LUIS BORGES
 
O porvir é tão irrevogável
como o rígido ontem.
Não há uma coisa
que não seja uma letra silenciosa
da eterna escrita indecifrável
cujo livro é o tempo.
Quem se afasta
de sua casa já retornou.
Nossa vida
é senda futura e percorrida.
Nada nos diz adeus. Nada nos deixa.
Não te rendas. O carcere é escuro,
a firme trama é de incessante ferro...
Mas de algum canto de seu encerro
pode haver um descuido, uma fenda.
O caminho é fatal como flecha
Mas nas gretas está Deus,
que espreita.

sexta-feira, 8 de março de 2013

OFÍCIO DE PASSARINHO



MANOEL DE BARROS

Desde sempre parece que ele fora preposto a pássaro.
Mas não tinha preparatórios de uma árvore
Pra merecer no seu corpo ternuras de gorjeios.
Ninguém de nós, na verdade, tinha força de fonte.
Ninguém era início de nada.
A gente pintava nas pedras a voz.
E o que dava santidade às nossas palavras era
a canção do ver!
Trabalho nobre aliás mas sem explicação
Tal como costurar sem agulha e sem pano.
Na verdade na verdade
Os passarinhos que botavam primavera nas palavras.

 

sábado, 2 de março de 2013

VIDA SIMPLES


 
MANOEL DE BARROS
Por forma que a nossa tarefa principal
era a de aumentar
o que não acontecia.
(Nós era um rebanho de guris.)
A gente era bem-dotado para aquele serviço
de aumentar o que não acontecia.
A gente operava a domicílio e pra fora.
E aquele colega que tinha ganho um olhar
de pássaro
Era o campeão de aumentar os desacontecimentos.
Uma tarde ele falou pra nós que enxergara um
lagarto espichado na areia
a beber um copo de sol.
Apareceu um homem que era adepto da razão
e disse:
Lagarto não bebe sol no copo!
Isso é uma estultícia.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

ALMA SIMPLES

                                              JOHN MERRIT-FRANÇA-
MANOEL DE BARROS
 
Por forma que o dia era parado de poste.
Os homens passavam as horas sentados na
porta da Venda
de Seo Mané Quinhentos Réis
que tinha esse nome porque todas as coisas
que vendia
custavam o seu preço e mais quinhentos réis.
Seria qualquer coisa como a Caixa Dois dos
prefeitos.
O mato era atrás da Venda e servia também
para a gente desocupar.
Os cachorros não precisavam do mato para
desocupar
Nem as emas solteiras que despejavam correndo.
No arruado havia nove ranchos.
Araras cruzavam por cima dos ranchos
conversando em ararês.
Ninguém de nós sabia conversar em ararês.
Os maridos que não ficavam de prosa na porta
da Venda
Iam plantar mandioca
Ou fazer filhos nas patroas.
A vida era bem largada.
Todo mundo se ocupava da tarefa de ver o dia
atravessar.
Pois afinal as coisas não eram iguais às cousas?
Por tudo isso, na Corruptela parecia nada
acontecer.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

TRILHA DA ALMA


TRILHA DA ALMA
ELIANA MIRANZI

CAMINHO BEM CEDO, NA MANHÃ CINZA,
QUE AINDA NÃO SE DECIDIU ENTRE SOL E CHUVA.
UM VENTO INSONSO, SEM MUITA OPINIÃO PRÓPRIA,
VISITA MEU ROSTO, BRINCA COM MEUS CABELOS,
DERRUBA FOLHAS E LEVANTA POEIRA.
A MARCHA É FIRME, EMBALADA PELO CANTO BRANDO
DO RIACHINHO QUE SEI QUE EXISTE ALÍ BEM PERTO,
E NO ENTANTO NUNCA O VÍ.
PASSARINHOS QUE NÃO MUDAM DE ASSUNTO,
REPETEM SEU RECADO MELÓDICO E ÚNICO.
OUTROS ENTRAM NO MEIO DA PROSA,
 COM HARMONIAS ESTRANGEIRAS E INESPERADAS.
O MUNDO DAS AVES....MUITO A NOS ENSINAR.
A CADA CAMINHO A SUA LIÇÃO, A CADA TRILHA, A SUA FUNÇÃO.
HOJE, CAMINHEI PARA NÃO PERDER A ALMA.
ONTEM, PODE TER SIDO POR TÊ-L ENCONTRADO.