terça-feira, 24 de abril de 2012

MALAS E SONHOS



(Classificados Poéticos)
ROSEANA MURRAY

Perdi maleta cheia de nuvens
e de flores,
maleta onde eu carregava
todos os meus amores embrulhados
em neblina.
Perdi essa maleta em alguma esquina
e algum sonho
e desde então eu ando tristonho
sem saber onde pôr as mãos.
Se andando pelas ruas
você encontrar a tal maleta,
por favor, me avise em pensamento
que eu largo tudo e vou correndo...

quinta-feira, 19 de abril de 2012

EQUILIBRIO E POESIA



ROSEANA MURRAY

Procura-se um equilibrista
que saiba caminhar na linha
que divide a noite do dia
que saiba carregar nas mãos
um fino pote cheio de fantasia
que saiba escalar nuvens arredias
que saiba construir ilhas de poesia
na vida simples de todo dia.

(in Classificados Poéticos, ed. Moderna)

segunda-feira, 16 de abril de 2012

ARTE E O PENSAMENTO JUNGUIANO


CAMILLE PISSARRO - FRANÇA-

GOSTEI DESTE ARTIGO, ENCONTRADO NO BLOG: "TAGARELANDO", E ACHEI POR BEM COMPARTILHAR.

"Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida" (Jung, 1920).

Bem, falar sobre o pensamento "junguiano" ou da teoria "junguiana" quase que somos obrigados a nos remeter à vida de Jung, visto que toda consideração teórica é a posteriori - isto é, primeiro vivemos e depois "teorizamos". Assim sendo eu gostaria de fazer um pequeno apanhado biográfico para percebermos a relação entre "a psicologia junguiana" e o "fazer artístico" ou a "Terapia em forma de arte".

A eficiência do uso terapêutico da arte, está no fato de ser uma expressão da capacidade de "auto-regulação" ou de "auto-cura" da alma. Para Jung a arte em si não são "manifestações" neuróticas da humanidade nem forma de sublimação de uma neurose. Pelo contrario, é justamente a ausência da arte e da religião na vida de uma pessoa um fator importante no desenvolvimento e agravamento das neuroses.

A importância da Arte e da Religião está no fato de serem expressões simbólicas da psique. Para isso ficar mais claro devemos dar um pouco de atenção ao modelo junguiano "funcionamento" da psique.

Para Jung, a psique é formada pela consciência e pelo inconsciente (sendo que o inconsciente possui tanto características pessoais quanto impessoais ou coletivas - que Jung dividiu em pessoal e coletivo). A psique é sistema energético relativamente fechado, caracterizado pela autonomia e pelo movimento constante e dinâmico da energia psíquica entre suas instancias.

No sistema psíquico é imperativo que haja um equilíbrio dinâmico entre o inconsciente e a consciência. O desequilíbrio energético é sempre compensado de alguma forma na busca do equilíbrio. Essas formas de compensação podem ser produções artísticas, sonhos, ou mesmo os sintomas neuróticos. O que chamamos de "neurose" ou mesmo na psicose é quando o equilíbrio fica comprometido, ou seja, quando as tentativas de re-equilibrar o sistema psíquico falham. Geralmente, essa falha ocorre pelo distanciamento entre a consciência e o inconsciente, onde a consciência assume uma atitude "unilateral", ou seja, a relação excessivamente direcionada para o que é "externo" em detrimento ao inconsciente, ou seja do mundo interior. Os sintomas estão ali indicando o caminho. Indicando onde e o que precisa mudado para reorganizar ou re-equilibrar o sistema psíquico.

A forma natural da busca de equilíbrio psíquico ocorre por meio dos símbolos, que permeiam toda a relação psíquica. Os símbolos são os responsáveis pelo processo de transformação ou de passagem da energia psíquica entre inconsciente e a consciência - distribuindo-a de forma a "levá-la à atividade útil". Por isso sempre que falamos em produções do inconsciente - sejam elas sonhos, produções artísticas, sintomas - falamos de seu significado simbólico. Os símbolos são uma forma de acessar o inconsciente.

Para isso ficar mais claro devemos entender um pouco sobre o significado de símbolo para compreendermos nosso contexto. A palavra símbolo tem sua origem no termo grego "symbolon" que significa marca, sinal de reconhecimento, contra-senha que está relacionado ao verbo grego symbállein que é colocar junto, fazer coincidir, juntar. O termo símbolo exprime a união de iguais que foram separados e que ao se encontrarem, se reconhecem tornando-se um.
A função psíquica do símbolo é semelhante à expressa historicamente na cultura: reconhecer e unir. Assim o símbolo é uma ponte que aproxima o inconsciente e a consciência. Igualmente a uma ponte o símbolo possui um lado que fala a consciência e um lado que repousa no inconsciente, por isso um símbolo nunca é totalmente racional, dessa forma, não se pode racionalizá-lo dizendo "Este símbolo significa isso ou aquilo". Quando se atribui um único significado ao "símbolo", ele se torna um sinal, algo próprio da consciência. A diferença entre símbolo e sinal está no fato de que "Um sinal sempre aponta para uma idéia consciente(...) Um sinal é sempre menos do que a coisa que quer significar, e um símbolo é sempre mais do que podemos entender a primeira vista. Por isso não nos detemos diante de um sinal, mas vamos até o objetivo para o qual aponta; no caso do símbolo, porém, nós paramos porque ele promete sempre mais do que revela." Os símbolos surgem espontaneamente do inconsciente.

Todo símbolo depende de quem o vivencia, o que é simbólico para um para outro pode ser algo desprezível. Por isso, via de regra, não cabe a nós julgar o que é simbólica para outra pessoa. Até mesmo alguns símbolos que são "universais", isto é, estão presentes em quase todas as culturas devem ser compreendidos "símbolos relativamente fixos". Pois não se pode dizer como esse símbolo está sendo utilizado por essa psique. Jung diz que dizia a seus alunos "estudem tudo sobre simbolismo, e esqueçam na frente do seu cliente".

Os símbolos podem ser pessoas, lembranças, objetos ou situações que num determinado momento possibilitam mudanças de atitude da consciência frente ao inconsciente. A vivência dos símbolos dá um novo colorido a vida. Segundo Neumann, "Na vida simbólica, o ego não toma um conteúdo, mediante o lado racional da consciência, a fim de analisa-lo (...) mas em vez disso, a totalidade da psique se expõe ao efeito do símbolo e se deixa ´co-mover´ por ele. Essa permeabilidade afeta toda a psique e não unicamente a consciência." Assim, o homem vive no fascínio contínuo da descoberta, pois nada é simplesmente isto ou aquilo. Nada é banal.

A psicoterapia ou análise busca a harmonia entre o inconsciente e a consciência. Ou seja, a psicoterapia em si só é eficaz quando se torna símbolo ou simbólica para o cliente. Acontece que geralmente nesse tornar-se símbolo ou nessa busca "desesperada" pelo equilíbrio surge na terapia o problema da transferência. Para Jung, a transferência é uma expressão do apego à possibilidade da mudança de atitude da consciência. Muitas vezes a transferência é o que "lentifica" ou mesmo atrapalha o processo de transformação da personalidade, ou seja, a psicoterapia, por gerar uma certa dependência com a figura do psicoterapeuta. Visto por este aspecto, o "fazer artístico" confere autonomia ao individuo - pois a responsabilidade e o potencial para a mudança de atitude estão nele mesmo, sem criar a dependência do psicoterapeuta. Atividade criação e transformação dos materiais é simbolicamente a transformação da própria realidade psíquica.

A arte é uma agente de cura quando permite que o indivíduo reencontre os seus símbolos. Ou, em outras palavras, quando a arte se torna o símbolo mediador, ou função transcendente, para o indivíduo - se tornando a ponte entre o inconsciente e a consciência. Permitindo o processo de reequilíbrio psíquico e, mais, o restabelecimento da vida simbólica desse indivíduo, possibilitando a integração e assimilação dos símbolos, fornecendo a energia necessária ao ego, para que possa se diferenciar tanto do que lhe imposto socialmente quanto dos conteúdos inconscientes - como os complexos e arquétipos.

Jung costumava usar uma citação alquímica que dizia "Ars Totum Requirit Hominem" - que é "A arte exige o homem inteiro". Originalmente, essa "arte" referia-se à Alquimia, mas a implicação dela vai além, a "arte" é tanto a própria psicoterapia - que exige o terapeuta inteiro - quanto à própria vida. A psicoterapia, a arte e religião são formas da alma buscar e se fazer total ou inteira através da integração dos símbolos. Uma outra importante citação alquímica utilizada por Jung dizia "Habentibus symbolum facilis est transitus" - "Tendo o símbolo a travessia é fácil". Com a vivência e simbolização da vida a travessia é fácil. conseguimos passar pelos momentos tristes e felizes sem perdermos o encanto pela vida.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

ESCOLHAS






“Todo o amor do mundo pode ser dado a você, mas, se você decidir ser infeliz, permanecerá infeliz. E você pode ser feliz, imensamente feliz, por absolutamente nenhuma razão – porque a felicidade e a infelicidade são decisões suas.
Leva muito tempo para perceber que a felicidade e a infelicidade dependem de você, porque é muito confortável para o ego achar que os outros estão fazendo você infeliz.
O ego insiste em dar condições impossíveis, e ele diz que primeiro essas condições precisam ser satisfeitas e somente então você poderá ser feliz. Ele pergunta como você pode ser feliz em um mundo tão feio, com pessoas tão feias, em uma situação tão feia.
Se você observar corretamente, rirá de si mesmo. É ridículo, simplesmente ridículo. O que você está fazendo é absurdo. Ninguém está nos forçando a fazer isso, mas insistimos em fazê-lo – e gritamos por socorro.
E você pode simplesmente sair disso; trata-se de seu próprio jogo – ficar infeliz e depois pedir simpatia e amor. Se você estiver feliz, o amor fluirá em sua direção… não há necessidade de pedi-lo.
Essa é uma das leis básicas. Exatamente como a água flui para baixo e o fogo flui para cima, o amor flui em direção à felicidade. “
Osho

quarta-feira, 11 de abril de 2012

BARQUINHO POÉTICO



PALAVRAS ANTIGAS
ROSEANA MURRAY


Astrolábios, sextantes,
alfarrábios,
arrumo nas minhas estantes
e cartas antigas,
roídas
pelo tempo.

Arrumo luas e ventos,
todos os velhos instrumentos
para enfrentar o sol e a tempestade,
os rumos mais variados.
Parto nesse meu barco
para o país do amor.

Quantos homens, desde o início do mundo,
partiram, assim como eu,
uma bússola e um desejo,
o coração em sobressalto.

Quem, ancorado no cais,
esperará por mim?

in O Mar e os Sonhos, ed. LÊ

sábado, 7 de abril de 2012

POSITIVO/NEGATIVO



POSSIBILIDADE DE VIDA

A vida é possível apenas por meio de desafios. A vida é possível apenas quando você tem ambos, bom tempo e mau tempo, quando você tem ambos, prazer e dor, quando você tem ambos, inverno e verão, dia e noite. Quando você tem ambos, tristeza e alegria, desconforto e conforto. A vida se move entre essas duas polaridades. Movendo-se entre essas duas polaridades, você aprende como ter equilíbrio. Entre essas duas coisas, você pode aprender como voar até a estrela mais distante. As dificuldades sempre existem, são parte da vida. E é bom que existam, ou não haveria crescimento. Dificuldades são desafios. Elas o incitam a trabalhar, a pensar, a descobrir meios de sobrepujá-las. O próprio esforço é essencial. Assim, sempre tome as dificuldades como bênçãos. Sem dificuldades, estaríamos perdidos. Dificuldades maiores virão, e isso significa que a existência está cuidando de você, está lhe dando mais desafios. E, quanto mais você os soluciona, maiores desafios estarão esperando por você. As dificuldades desaparecem somente no último momento, mas esse último momento chega somente devido às dificuldades. Assim, nunca tome negativamente qualquer dificuldade. Descubra o algo positivo nela para o seu aprendizado. A mesma rocha que bloqueia o caminho poderá funcionar como um degrau. E se não houvesse essa rocha no caminho, como você se elevaria? E o próprio processo de ir acima dela, tornando-a um degrau, dá-lhe uma nova atitude de ser. Quando você pensa criativamente sobre a vida, tudo é útil e tudo tem algo a lhe dar. Nada é sem sentido. (OSHO)

quinta-feira, 5 de abril de 2012

CORAÇÃO POÉTICO



CORAGEM-OSHO

A palavra coragem é muito interessante. Ela vem da raiz latina cor, que significa "coração". Portanto, ser corajoso significa viver com o coração. E os fracos, somente os fracos, vivem com a cabeça; receosos, eles criam em torno deles uma s...egurança baseada na lógica. Com medo, fecham todas as janelas e portas – com teologia, conceitos, palavras, teorias – e do lado de dentro dessas portas e janelas, eles se escondem.

O caminho do coração é o caminho da coragem. É viver na insegurança, é viver no amor e confiar, é enfrentar o desconhecido. É deixar o passado para trás e deixar o futuro ser. Coragem é seguir trilhas perigosas. A vida é perigosa. E só os covardes podem evitar o perigo – mas aí já estão mortos. A pessoa que está viva, realmente viva, sempre enfrentará o desconhecido. O perigo está presente, mas ela assumirá o risco. O coração está sempre pronto para enfrentar riscos; o coração é um jogador. A cabeça é um homem de negócios. Ela sempre calcula – ela é astuta. O coração nunca calcula nada. Faça todas as coisas criativas, faça o melhor a partir do pior - isso é o que eu chamo de arte. E se um homem viveu toda a vida fazendo a todo momento uma beleza, um amor, naturalmente a sua morte será o supremo pico no empenho de toda a sua vida.

Não se preocupe com a perfeição. Substitua a palavra "perfeição" por "totalidade". Não pense que você tem de ser perfeito, pense que tem de ser total. A totalidade dá a você uma dimensão diferente."

Ame algo mais elevado, algo maior, algo no qual você se perderá e que não possa controlar; você pode ser possuído por ele, mas não pode possuí-lo. Então o ego desaparece, e, quando o amor não tiver ego, ele será prece."
OSHO

segunda-feira, 2 de abril de 2012

DESCANSO E POESIA


HENRI MATISSE-FRANÇA-

TÃO BOM AQUI
ADÉLIA PRADO


Me escondo no porão
para melhor aproveitar o dia
e seu plantel de cigarras.
Entrei aqui pra rezar,
agradecer a Deus este conforto gigante.
Meu corpo velho descansa regalado,
tenho sono e posso dormir,
tendo comido e bebido sem pagar.
O dia lá fora é quente,
a água na bilha é fresca,
acredito que sugestiono elétrons.
Eu só quero saber do microcosmo,
o de tanta realidade que nem há.
Na partícula visível de poeira
em onda invisível dança a luz.
Ao cheiro de café minhas narinas vibram,
alguém vai me chamar.
Responderei amorosa,
refeita de sono bom.
Fora que alguém me ama,
eu nada sei de mim.