segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

JARDINS E POESIA




JARDIM
Roseana Murray


Infinito é o jardim
Das delicadezas,
Semeado desde
O primeiro dia do mundo.
Há que alimentá-lo,
Hora por hora,
Com palavras e gestos
E pedaços de alma.
Há que ser incansável
Jardineiro:
Para este jardim
Cada sorriso é um sol.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

TRECHOS POÉTICOS


(FOTO DO BLOG CASA AZUL)

MANOEL DE BARROS
(LIVRO:MENINO DO MATO)


-INVENTO PARA ME CONHECER
-EU SÓ FAÇO TRAVESSURAS COM PALAVRAS.
-NÃO SEI NEM ME PULAR QUANTO MAIS OBSTÁCULOS.
-ESCREVER O QUE NÃO ACONTECE É TAREFA DA POESIA.
-A INFÂNCIA DA PALAVRA JÁ VEM COM O PRIMITIVISMO DAS ORIGENS.
-EU GOSTO DO ABSURDO DIVINO DAS IMAGENS.
-SOU BEATO DE OUVIR A PROSA DOS RIOS.
-PARA CANTAR É PRECISO PERDER O INTERESSE DE INFORMAR.
-PRA MEU GOSTO A PALAVRA NÃO PRECISA SIGNIFICAR- É SÓ ENTOAR.
-NO GORGEIO DOS PÁSSAROS TEM UM PERFUME DE SOL?
-EU VI A MANHÃ POUSADA EM CIMA DE UMA PEDRA!
ISSO NÃO MUDA A FEIÇÃO DA NATUREZA?
- EU VÍ UM LÍRIO VEGETADO EM CARACOL!
ISSO NÃO MUDA A FEIÇÃO DA NATUREZA?
-EU SEMPRE GUARDEI NAS PALAVRAS O MEU DESCONCERTO.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

IMAGINAÇÃO E POESIA



O Livro sobre Nada

Manoel de Barros


Com pedaços de mim eu monto um ser atônito.

Tudo que não invento é falso.

Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.

Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.

É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.

Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas se não desejo contar nada, faço poesia.

Melhor jeito que achei para me conhecer foi fazendo o contrário.

A inércia é o meu ato principal.

Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.

O artista é um erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.

A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.

Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.

Por pudor sou impuro.

Não preciso do fim para chegar.

De tudo haveria de ficar para nós um sentimento longínquo de coisa esquecida na terra — Como um lápis numa península.

Do lugar onde estou já fui embora.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

ESTRADAS E POEMAS



RECEITA DE ANDAR SEM RUMO
ROSEANA MURRAY


O vento como guia
suba montanha acima
siga a música do rio
... pedra por pedra
dia por dia
perca o rumo e o fio
deixe que o coração
cante as horas
arrume a noite e o sol.

in Receitas de Olhar, ed. FTD

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O MENINO E A POESIA


OBRA DE LEONARD WREN-IMPRESSIONISTA NORTE-AMERICANO.

MANOEL DE BARROS
DO LIVRO: "MENINO DO MATO"


EU QUERIA FAZER PARTE DAS ÁRVORES COMO OS
PÁSSAROS FAZEM.
EU QUERIA FAZER PARTE DO ORVALHO COMO AS
PEDRAS FAZEM.
EU SÓ NÃO QUERIA SIGNIFICAR.
PORQUE SIGNIFICAR LIMITA A IMAGINAÇÃO.
E COM POUCA IMAGINAÇÃO EU NÃO PODERIA
FAZER PARTE DE UMA ÁRVORE.
COMO OS PÁSSAROS FAZEM.
ENTÃO A RAZÃO ME FALOU:O HOMEM NÃO
PODE FAZER PARTE DO ORVALHO COMO AS PEDRAS
FAZEM.
PORQUE O HOMEM NÃO SE TRANFIGURA SENÃO
PELAS PALAVRAS.
E ISSO ERA MESMO.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

POESIA/ALIMENTO


CAMPOS DE PAPOULAS- RAQUEL TARABORELLI-IMPRESSIONISTA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA-

ESPLENDORES
ADÉLIA PRADO


TODA COMPREENSÃO É POESIA,
CLARÃO INAUGURAL QUE NÉVOA DENSA
FAZ PARECER VELADOS DIAMANTES.
EM PEQUENOS BOCADOS,
COMO QUEM DÁ COMIDA A CRIANCINHAS,
A BELEZA RETÉM SEU VÓRTICE.
SÃO ÁGUAS DE COMPAIXÃO
E EU SOBREVIVO.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

SOMOS UM-SEMPRE-


JEAN-MICHEL FOLON-ARTISTA BELGA CONTEMPORÂNEO-VIVEU ATÉ 2005-"ASAS"


TRABALHO GREGO-DANÇA DAS NEREIDAS


ROBERT HAPPÉ
Entrevista para Revista Bons Fluidos


ATENÇÃO:VALE A PENA LER NA ÍNTEGRA.


Nascido na Holanda e estudioso das religiões ocidentais, o psicólogo e pensador Robert Happé resolveu estudar por cinco anos na Índia, na Universidade de Bombaim, onde aprendeu filosofias orientais - budismo, hinduísmo, taoísmo... Em seguida, experimentou pôr em prática o que havia aprendido na teoria - passou três anos nas florestas da Tailândia, sozinho e em meditação, e mais um ano nos mosteiros e nas montanhas nevadas do Tibete. Era o final da década de 70. De volta ao Ocidente, lecionou na Inglaterra, na Escócia, na Irlanda e, depois, já nos anos 80, começou a dar seminários em vários países do mundo. Mas foi no Brasil que Robert Happé resolveu lançar âncoras, em 1992: apaixonou-se pela maneira de ser dos brasileiros. "Aqui as pessoas se abrem mais facilmente e são muito amorosas. Demonstram seus sentimentos e têm menos medo de entrar em contato com suas emoções", reconhece o pensador holandês. Para ele, essa é uma importante qualidade, talvez a maior que possa existir nos tempos atuais. "O planeta está passando por uma mudança profunda, significativa. Já existem milhões de pessoas no mundo vivendo uma realidade mais consciente, mais espiritualizada e amorosa", avalia. E, segundo ele, essa parcela da humanidade, que ainda está longe de ser a maioria, tende a aumentar. "É um momento especial. As freqüências de energia sutil estão ficando cada vez mais aceleradas e, portanto, menos densas - está em curso uma mudança planetária total. Mais e mais pessoas estão em sintonia com a energia do amor, da solidariedade, da compaixão, que são freqüências energéticas de altíssima vibração, muito aceleradas", afirma. "O amor é a melhor maneira de abandonar nossos padrões habituais, baseados no medo, na insegurança e no egoísmo", garante Happé. É esse sentimento que nos dá confiança, abertura e liberdade, qualidades nascidas do sentimento de integração e unidade entre todos os seres. E cada medo superado nos prepara para níveis ainda mais elevados de consciência e compreensão. "Para isso acontecer, é só deixar o coração nos guiar", diz ele, sorrindo.
BONS FLUIDOS - O senhor estudou filosofias e religiões, tanto ocidentais quanto orientais, e acabou por falar cada vez mais do amor e da necessidade de elevação da consciência. Não é o que propõem todas as tradições espirituais?
ROBERT HAPPÉ - Sim, mas existe uma diferença. As religiões são baseadas em crenças, e as crenças divergem de uma religião para outra. Aí começam os conflitos. Todos acreditam estar certos, que a sua religião é a correta, e isso aumenta a noção de separatividade em relação ao outro. A realidade é que as crenças podem ser diferentes, mas as pessoas não. Todos precisam amar e ser amados. Essa verdade está gravada no coração do ser humano. Essa é a essência dos ensinamentos espirituais dos grandes mestres, como Cristo e Buda. Porém essa verdade é perdida quando as religiões se organizam em sistemas de crenças. Passamos a tentar encontrar a realidade fora e não mais dentro de nós.
BF - Esquecemos das antigas lições dos mestres, que nos convidam a nos conectar com o amor.
RH - Somos seres espirituais que vieram a este mundo para aprender a nos amar, a nos conectar uns com os outros e a compartilhar. Com o amor, podemos experimentar níveis mais altos de consciência, níveis mais apurados de compreensão. Mas não conseguimos fazer isso porque um acredita numa coisa e outro acredita em outra - estamos separados pelas crenças religiosas e culturais. Não conseguimos integrar a amorosidade unificadora do coração porque nossa cabeça não deixa - ela nos diz que estamos irremediavelmente separados por nossas crenças e religiões.
BF - E a maioria das guerras no planeta começa por aí...
RH - Temos muito medo uns dos outros, pavor do poder que o outro pode adquirir. Nos sentimos ameaçados, sempre. Temos de nos defender das pessoas que não acreditam nas mesma coisa que nós! Assim, ficamos ilhados, imobilizados em nossa insegurança. Se uma pessoa tem muito medo, é porque está longe do amor e do seu coração. Exatamente o que esses grandes mestres espirituais não queriam.
BF - Essa situação vai continuar sempre assim?
RH - O momento espiritual em que vivemos é muito especial. É a hora da transformação de nossos medos - que nascem da noção de separação - em amor e desejo de unificação. Essa mudança de paradigma, de referência, é de ordem planetária e cósmica. A Terra, nosso querido planeta, também é um ser vivo que está se modificando. Ela, como a humanidade, está evoluindo. Isso significa que as freqüências energéticas mais sutis estão mais aceleradas. E isso também está acontecendo conosco.
BF - Mesmo num mundo que assistiu o 11 de setembro e a queda das torres gêmeas em Nova York?
RH - Sim. A queda das torres foi uma apunhalada no centro econômico do planeta. O planeta foi ferido, assim como o coração de toda a humanidade foi ferido. Mas aquele evento nos revelou, com muita contundência, a desigualdade econômica em que vive a maior parte do planeta. O que se seguiu foi um repensar de muitas atitudes.
BF - Mas ainda continuamos com muito medo. Nossos olhos vêem um mundo agressivo, violento.
RH - Apesar de ter um corpo físico, na verdade somos seres de pura energia. Se estivermos vibrando na freqüência do medo e da violência, estaremos sintonizando o medo e a violência - energia atrai energia. Se temos raiva, mesmo reprimida, atrairemos situações violentas e agressivas. Se nos sentimos inseguros, viveremos situações que nos causam angústia e apreensão. Isso nos torna co-participantes de nossa própria realidade -- somos co-criadores de nosso destino. Saber isso é muito, muito importante. Compreender essa realidade nos conscientiza da importância de sentir amor, compaixão e generosidade. Essa atitude irá se refletir em nossa vida.
BF - Mas continuamos a trancar nossas portas...
RH - Estamos ainda no início de um processo planetário. A primeira providência é derrubar nossas próprias paredes internas. Nosso coração está cercado de tijolos. Cada medo, mágoa, preocupação ou angústia é um tijolo com que emparedamos nosso coração. O primeiro passo é ir retirar esses tijolos, um a um. Cada tristeza ou medo superado significa que deixamos entrar mais luz no coração e que podemos escutá-lo com mais facilidade. É assim que evoluímos espiritualmente - destruindo a muralha que construímos em volta do coração.
BF - E como se faz isso?
RH - Com coragem e confiança. Por exemplo, experimentando amar sem ser amado. O amor é incondicional. O sentimento que a maioria dos casais vive não é amor, é troca de interesses. Isso acontece quando estamos centrados no ego. Temos medo de amar. Fazer meditação nos ajuda a ver como os medos são ilusórios. Com ela, fica mais fácil quebrar as muralhas que impedem uma relação mais íntima. Perdemos o medo de abraçar de verdade, de dar uma flor quando o coração pede. É tão simples que chega a ser embaraçoso. Amar é simplesmente amar, é dar sem querer receber algo em troca. Esse tipo de amor existe dentro de nós, ele nos é inerente. Despertar nesse plano espiritual é tornar-se consciente de sua presença e expressá-la na vida. Iluminar-se significa vibrar numa consciência mais amorosa, plena, que inclui o cuidado com todos os seres.
BF - E essa nova consciência se manisfesta em todos os níveis?
RH - Sim. Você passa a viver mais conscientemente. Presta mais atenção nas palavras que usa para falar, escolhe com mais cuidado o que vai comer. Você se preocupa, por exemplo, se o produto que comprou foi feito com mão-de-obra infantil ou se a tinta da parede é tóxica. O que você pensa passa a ter importância, como você arruma o lugar onde mora passa a ter importância. A consciência está presente em cada uma de suas atitudes. Esse é o novo paradigma da humanidade. Sermos mais conscientes e amorosos é o nosso grande desafio.

Texto: Liane Camargo de Almeida Alves

Fonte: Revista Bons Fluidos