Uma vez fui
viajar e não voltei
(Marcelo
Penteado)
iUma vez fui viajar e não voltei.
Não
por rebeldia ou por ter decidido ficar; simplesmente mudei.
Cruzei
fronteiras que eu nunca imaginaria cruzar. Nem no mapa, nem na vida. Fui tão
longe que olhar para trás não era confortante, era motivador.
Conheci
o que posso chamar de professores e acessei conhecimentos que nenhum livro
poderia me ensinar. Não por serem secretos, mas por serem vivos.
Acrescentei
ao dicionário da minha vida novos significados para educação, medo e respeito.
Reaprendi
o valor de alguns gestos. Como quando criança, a espontaneidade de sorrisos e
olhares faz valer a comunicação mais universal que há – a linguagem da alma.
Fui
acolhido por pessoas, famílias, estranhos, bancos e praças. Entre chãos e humanos,
ambos podem ser igualmente frios ou restauradores.
Conheci
ruas, estações, aeroportos e me orgulho de ter dificuldade em lembrar seus
nomes. Minha memória compartilha do meu desejo de querer refrescar-se com novos
e velhos ares.
Fiz
amigos de verdade. Amigos de estrada não sucumbem ao espaço e nem ao tempo.
Amigos de estrada cruzam distâncias; confrontam os anos. São amizades que
transpassam verões e invernos com a certeza de novos encontros.
Vivi
além da minha imaginação. Contrariei expectativas e acumulei riquezas
imateriais. Permiti ao meu corpo e à minha mente experimentar outros estados de
vivência e consciência.
Redescobri
o que me fascina. Senti calores no peito e dei espaço para meu coração acelerar
mais do que uma rotina qualquer permitiria.
E
quer saber?
Conheci
outras versões da saudade. Como nós, ela pode ser dura. Mas juro que tem suas
fraquezas. Aliás, ela pode ser linda.
Com
ela, reavaliei meus abraços, dei mais respeito à algumas palavras e me
apaixonei ainda mais por meus amigos e minha família.
E
ainda tenho muito que aprender.
Na
verdade, tais experiências apenas me dirigem para uma certeza – que ainda tenho
muito lugar para conhecer, pessoas a cruzar e conhecimento para experimentar.
Uma
fez fui viajar…
e
foi a partir deste momento que entendi que qualquer viagem é uma ida sem volta.